Feleex: Praça Coronel Fernando Prestes

10 de julho de 2010

Praça Coronel Fernando Prestes

Mais uma vez andando sozinho por qualquer lugar do mundo, qualquer avenida, qualquer beco imundo que essa cidade suja e só possa me oferecer. E lá estava eu, sentado naquele banco de qualquer praça, com nome de qualquer defunto que tenha feito algo de util na vida em plena madrugada. Coronel Fernando Prestes, quem sera que esse foi? Alguem que tirou a vida de algum corrupto, ou derrubou enjustiças? Pesquisarei depois. (Na verdade não me lembrarei daqui a 5 mintos que pensei nisso)
A madrugada sempre foi minha amiga, nos damos bem desde que eu me entendo por gente, e não sofro em espera-la, na verdade ela sempre chega com muita facilidade. E disso tiramos uma cena que se repete sempre: a madrugada, o banco frio quase umido pelo sereno, as lagrimas e a solidão.
Se eu tivesse juizo pensaria que algum policial poderia passar, me enquadrar pensado que eu sou mais um viciado em drogas, ou algum ladrão pra levar meus trocados que tenho no bolso. Mas meu medo no momento é que nada disso passe, que ninguem apareça e que nada tenha sentido quando o dia finalmente clarear.
Está frio, estamos em julho, sinto o vento rasgar meu rosto, as lagrimas escorrendo faz tudo parecer mais frio e mais triste. De vez enquando algum carro passa, mas ninguem a pé. É madrugada de sabado para domingo, isso quer dizer que pode ser um bando de jovens desmiolados, drogados e bebados voltando de qualquer inferninho que exista porai.
Me mantenho encolhido, com a cabeça entre os joelhos, não vejo nem a cor desses carros, e muito menos quem esta dentro deles, só ouço o barulho do motor, misturado ao som de algumas vozes abafadas de risadas e orgias.
Alguns detalhes que me fazem esquecer o real motivo de estar ali sozinho, o motivo que me tira da cama e me fazer andar feito um zumbi pelas ruas dessa cidade imensa. Tantos "porques", tantos pontos de interrogação, pontos que sempre me fazem chegar ao memso lugar. Mas nada emporta.
Ainda consigo ouvir o ruido da musica que sai dos fones de ouvidos caidos sobre meu colo, a voz forte de Tarja Turunen torna tudo mais melancolico, "I Walk Alone", chega ser comico por fazer sentido, sinto um sorriso triste e rapido se abrir no meu rosto, como se minha tristeza fosse engraçada.
Um carro parou aqui na minha frente, ouço vozes alteradas por raiva. Devia sentir medo, mas nem levantei a cabeça para ver, fiquei simplismente ouvindo:
- Droga, você não podia ser menos imprudente? Será que você não percebe que pode nos matar? - Uma voz masculina, não muito velha, as duas perguntas ecoaram sem uma resposta, o que pude ouvir somente foi o som da porta do carro se abrindo e fechando, alguem havia saido.
- Douglas! Volta aqui - Foi a mesma voz de antes, agora meio abalada pela situação. - O que você vai fazer?
- Voltem sem mim - Finalmente Douglas respondeu - Vou andar um pouco, esfriar a cabeça.
Ouvi seus passos vindo na minha direção, o que me fez me encolher mais.
- Cara, você tá louco? - Mais uma pergunta sem resposta.
Douglas sentou ao meu lado, não olhei, nem levantei a cabeça, mas pude sentir seu peso no banco.
- Vá embora, me deixe em paz - A voz de Douglas era triste - Eu vou ficar bem.
Era como se tudo tivesse parado, os agudos da musica que eram um ruido longe, se tornaram ensurdecedores para mim, tudo fazia barulho de mais, e atrapalhava ouvir a conversa alheia.
Demorou um ou dois minutos, até que o carro arrancou e saiu, pude ouvir um suspiro do meu lado, meio tremulo como se fosse de um choro. Criei coragem e levantei a cabeça, meus olhos em carne viva pelas horas e mais horas de choro dificultaram a visão, não pensei muito em esfregalos para deixar mais nitido o rosto do rapaz, como minhas mãos estavam geladas, tremi. Ele não olhava para mim, estava de olhos fechados, era branco, usava um corte de cabelo no estilo raspado, um cara realmente bonito, usava uma calça jeans escura, um moleton vermelho, e um All Star classico. Pude ver gotas salgadas brotando dos seus olhos, e escorrendo pelo seu rosto, não que a luz amarelada dos postes ajudassem muito.
Ele abriu os olhos, ficou olhando para um ponto fixo a sua frente por alguns segundos, depois virou para a minha direção. Nossos olhares se encontraram, o que me fez abaixar a cabeça rapidamente. Os segundos que fiquei com a cabeça abaixada pareciam horas, até que voltei a levanta-la e olhar para Douglas, que continuava olhando para mim.
- Olá - Disse ele com um sorriso triste quando percebeu que eu estava olhando de novo - Tudo bem?
- Poderia estar melhor... - Respondi com tristeza e sarcasmo.
- Hum... - Seus olhos se apertaram, como se ele estivesse pensando e engolindo minha resposta - Me chamo Douglas.
- Eu sei - Respondi como se fosse obvio demais - Me chamo Félix.
Ele estendeu a mão em minha direção, pensei tempo demais até comprimenta-lo. Sua mão estava quente, entrando em um contraste absurdo de temperatura com a minha, que parecia um Ice Bearg.
- Prazer - Falei monotonamente. Larguei sua mão e coloquei no bolso.
Se passaram alguns instantes de silêncio, até que finalmente ele quebrou o cristal.
- Não acha perigoso estar na rua até essa hora?
- Você não acha? - Respondi.
- É, realmnte perigoso. - Ele respondeu com ar de deboche, rindo da minha cara. - Mas acho que nós somos o perigo da noite.
Pensei por um segundo, fazia sentido o que ele tinha dito, nos eramos os mal encarados no meio de São Paulo as 3 da manhã.
- Você tem razão - Senti vontade de rir, mas me segurei, o que me fez ficar com cara de idiota.
Douglas ao contrario caiu na gargalhada, minhas pernas se quebraram, e eu o acompanhei com a risada. Estranho, rir com um cara que eu acabei de conhecer, a menos de 5 minutos, da maneira mais clichê que eu poderia imaginar.
Dali se estendeu uma conversa, fazia tempo que eu não falava da minha vida tão abertamente para alguem como fiz naquela noite. Falei, ouvi, demos boas risadas, a vida é engraçada com esse cara, ele torna coisas tristes em coisas engraçadas. Gostei da pessoa de Douglas. O dia ja estava quase amanhecendo quando deparamos que ja era quase 6 horas da manhã, estava na hora de ir embora. Lamentei a noite não ser mais comprida, e pesei ter que me despedir do meu novo amigo.
- Bom, "é hora de dar tchau" - A frase soou comica com sua enterperetação de Teletubes, sorri por um instante.
- "Tchau!" - Entrei na brincadeira infantil e respondi na mesma tonalidade. Rimos.
Levantamos finalmente do banco. Ficamos em pé olhando um para a cara do outro por um longo segundo, até que Douglas veio em minha direção e me abraçou, o que me fez travar por um instante, mas logo retribui.
O mundo parou, os carros que ja rodavam a aquela hora da manhã não faziam mais barulho, o abraço de Douglas era quente e aconchegante, não tinha malicia, não senti em nenhum moneto atração carnal de ambas as partes, foi um abraço de amigo, como se já nos conhecessemos a varios anos, não demorou muito para que aquilo se tornasse gay demais para continuar. Nos afastamos.
- Obrigado pela companhia - Falei sentindo meu rosto corar.
- Eu quem agradeço - Ele respondeu rindo, percebendo que eu estava sem graça.
Fomos embora, sem não antes trocar contatos, e seguimos cada um para seu lado.
Enquanto caminhava em direção a estação de metro, tentei achar o ponto que me entristecia, e não o localizei. Foi bom ter conhecido Douglas, ele me fez ver que mesmo que tudo possa estar errado, sempre podemos arrumar uma maneira de melhorar.
Voltar pra casa de maneira oposta a que eu sai foi legal, é foi uma noite mais que agradavel. Não fui morto por nenhum traficante, e não apanhei de nenhum policial pensando que sou o traficante. Ao contrario, conheci um cara incrivel. Acho que estou mais feliz... ou menos triste...

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Caraca... Helen Aparecida dizendo que eu escrevo bem, acho que estou melhorando hein... rs
Valeu Helen por ser mais um motivo de inspiração, você é D+
Denny, saudades, quero muito te ver para enchermos a cara com um vinho barato em qualquer boteco que acharmos.
Gabi Mamis, você sabe que eu te amo né sua coisa... Vou voltar pro Rio Grande do Sul só pra irmos a um karaokê e nos esbaldarmos definando...
Abrigado a todos que visitam e gostam!

6 comentários:

Anônimo disse...

adorei....
so uma duvida a historia é real???

Helem disse...

adorei o fato do Doglas ser real...
o vc realmente creceu rsrs

Feleex disse...

Sim, a historia é real.

Garoto Lunático disse...

karaaaamba - seo diário mais parece um seriado americano, shuahauahauau. sério. Me deixou encorajado no sentido de viver e crescer.

Franciele. disse...

Muito bem escrita a história. Parabéns e realmente a história lembra um episodio de seriado americano.

Michele disse...

Lindo Fee,eh uma historia boa,daria um bom curta metragem...
Parabens meu querido!!
Queria muito conhecer o "douglas"
hehee